Em janeiro deste ano, foi assinado o convênio entre a USP, o Ministério da Integração Nacional e Defesa Civil do Estado de São Paulo para a criação do Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres no Estado de São Paulo (Ceped). Coordenado pela Escola Politécnica e envolvendo dez Unidades de Ensino e Pesquisa da USP, entre elas o Instituto de Psicologia, o Ceped tem como finalidade produzir, integrar e disponibilizar o conhecimento produzido dentro da Universidade na prevenção e redução de desastres naturais no contexto regional e nacional.

O IP é responsável pela capacitação de profissionais que trabalharão com o amparo às vítimas e sobreviventes de desastres e situações de emergência. Com o objetivo de atuar em todo o processo, participando das situações de pré-desastre, desastre e pós-desastre, o Laboratório de Estudos Sobre a Morte (LEM), coordenado pela professora Maria Júlia Kovács, do Departamento de Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento Humano (PSA), criou três projetos principais: capacitação de profissionais socorristas para lidar com situações de morte e luto, atendimento às vítimas, e apoio aos moradores de abrigos temporários e profissionais que lá trabalham.

De acordo com a pesquisadora do LEM, Elaine Alves, para dar início satisfatoriamente a esses projetos é necessário que se faça um mapeamento, ou seja, um levantamento de dados por meio de entrevistas com sobreviventes e familiares para saber se eles receberam atendimento psicológico e qual a qualidade desse suporte, para só depois a ação ser aplicada. “Só a pesquisa vai poder nos fornecer a base científica para que possamos pensar na intervenção. A proposta é que isso aconteça num prazo inferior a cinco anos”, assegura. Elaine conta que o projeto de capacitação de profissionais especializados em desastres e emergências com relação à morte e luto já está operando. “O curso está pronto e pode ser ministrado em quatro horas. No entanto, para que ele seja realmente efetivo precisamos que seja no mínimo semestral. Nossa intenção futuramente é de que o curso se torne uma disciplina dentro do Instituto de Psicologia, se não obrigatória pelo menos optativa.”, explica.

Por se tratar da construção de um conhecimento multidisciplinar, o Ceped gerou novas demandas de necessidades para a estruturação dos projetos e cursos desenvolvidos pelo IP. Através da integração de estudos feitos em diferentes faculdades da USP, percebeu-se a possibilidade de complementaridade entre pesquisas de mesmo tema realizadas em unidades distintas – o que antes não havia por falta de comunicação entre elas. “Por incrível que pareça, uma descoberta que nós fizemos e antes nem podíamos imaginar é que a engenharia estuda coisas que nos interessam como, por exemplo, a classificação em idade e sexo das vítimas mais recorrentes em determinados tipos de desastre. Nosso intuito agora é nos unirmos a eles para descobrir o porquê dos números”, afirma Elaine.

Além disso, para compor a estrutura dos cursos, os projetos desenvolvidos para o Ceped também têm em vista a importância de examinar os próprios locais em que acontecem os desastres. “Precisamos conhecer centros de referência não só do Brasil, mas também internacionais, porque as experiências são outras, o conhecimento é outro e, dependendo da emergência que eles vivem, que podem ser diferentes das nossas, temos muito a aprender”, completa a pesquisadora.

Elaine estima que até 2015 os três projetos já estejam implementados. Enquanto isso eles serão desenvolvidos de acordo com as prioridades e exigências do Ceped. “Não é um trabalho simples, está começando e precisa de muito apoio”, atesta.

Por Maria Marta Cursino

Fonte: Instituto de Psicologia – USP